Campanha Conviver Com Respeito: sarau periférico é símbolo de arte e resistência

Produção audiovisual realizada pela Agência Experimental de Comunicação e Cultura – UFBA aborda sarau poético de Sussuarana

Sandro Sussuarana e Evanilson Alves na abertura do Sarau da Onça.(Foto: PRODUÇÃO)

Como representatividade das atividades culturais realizadas nas regiões periféricas da cidade de Salvador, a Agência Experimental trouxe em sua nova edição da Conviver Com Respeito o sarau poético pertencente a comunidade de Sussuarana, o sarau da onça. 

A edição desta quarta-feira (23) traz um panorama do retorno após a pandemia, que ocorreu no dia 15 de outubro, no CENPAH, Centro Pastoral Afro Padre Heitor em Novo Horizonte, Sussuarana. O evento é idealizado por Sandro Sussuarana, poeta e produtor cultural, em conjunto com Evanilson Alves, Maiara Guedes e Osmael Vieira.

Para Sandro, o sarau é uma produção cultural de autoafirmação da identidade periférica, que por muitas vezes é vista e tratada de forma marginalizada pela população soteropolitana. ” sarau da onça é um coletivo. Quando surgiu era um projeto que nós tínhamos a ideia de  desmistificar e desestigmatizar o bairro de Sussuarana, enquanto as mídias com maior circulação tanto televisiva quanto jornalística via o bairro  sempre associado a criminalidade. O sarau da onça surgiu com  um desses objetivos de desestigmatizar o nosso bairro e falar das coisas boas que o bairro tem”.

Como expressão da arte popular e da resistência das comunidades de Salvador, o sarau objetiva evidenciar produções literárias e artísticas, como poesias, músicas, performances e provocações. A Agência Experimental acompanhou o evento e entrevistou Sandro Sussuarana, Evanilson Alves, Carla Brito, Cazuto e outros artistas, além do público presente.

Para Carla Brito, poeta e escritora, a poesia se tornou seu alicerce em momentos difíceis da vida. Foi durante a pandemia que ela descobriu que escrever fortaleceu este lugar de pertencimento e autoafirmação como poetisa. “A poesia me encontrou antes de eu encontrá-la e poder reafirmar a presença dela na minha vida fez toda a diferença.  Não só a presença como também o papel dela na minha vida hoje. Que dizer: eu sou poeta, sim eu escrevo, sou escritora e participar de saraus tem sido uma grande experiência pela troca com outros artistas, com o público. E no fim, reafirma esse lugar de pertencimento”.

Para Laura Brandão, moradora do bairro e estudante da Faculdade de Comunicação da UFBA (FACOM), estabelecer um contato com a poesia a aproximou do sarau, incorporando em seu ciclo de amizades a presença de artistas e poetas da comunidade. Para ela isso é significativo no que tange o cenário cultural de seu bairro, fortalecendo a produção local.

Quando questionada sobre o que é  conviver com respeito, ela ressalta a importância de lidar com o diferente. “Conviver lidando bem com os outros, aceitando as diferenças. Lidando bem com o outro, não tentando impor o que eu acho para outra pessoa. Aceitando que cada um vive do seu modo e cada um vivendo do jeito que quer viver sem atrapalhar o outro”.

Ao fazer parte da comunidade de Sussuarana desde de maio de 2011, o Sarau é um espaço democrático que fortalece o pensamento crítico e a liberdade de expressão. Para Sandro, toda produção trazida no evento deve ser obrigatoriamente aplaudida, negando-lhe qualquer tipo de recriminação ou desaprovação. “Já me disseram que seria impossível; que sonhar pode, realizar só se for rico; que a periferia não produz, não existe cultura, que a juventude de hoje só quer saber de aventura; e mesmo assim a gente enfrentou.na linha de frente, a poesia como santo protetor; não bastante esta audácia saindo do centro para ocupar as praças, as escolas, os becos, as quebradas”, recitou  a poesia “Chegar antes da Bala”  que faz parte do livro Traficando Informação, 2º livro seu que integra o Grupo Recital Ágape. O sarau tem entrada gratuita e aberta a todas as comunidades.

Para ter acesso a produção audiovisual da Conviver com Respeito dessa edição, é só conferir: http://bit.ly/3Ua9Oqo.

A Conviver faz parte de uma ação extensionista desenvolvida desde de 2017 pela Agência Experimental de Comunicação e Cultura da UFBA e acontece de maneira audiovisual com o objetivo de dar visibilizar a temas de debate social, fortalecendo a comunicação solidária e ampliando a difusão de diálogos sobre diversidade, tolerância, antirracismo e sobre os direitos culturais.

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